terça-feira, 16 de setembro de 2008

O homem, na tentativa de se relacionar com o ambiente, adquiriu hábitos impróprios, corrigindo-se ao longo das gerações. Conviver com animais ou em ambientes insalubres sem a mínima condição de saúde possibilitou aos microrganismos não-próprios, isto é, da flora natural, habitarem outros organismos e provocar doenças. A tuberculose é uma doença dos seres humanos que acomete os pulmões - acredita-se ter sido introduzida através da cadeia alimentar e nas grandes invasões à natureza - que está apresentando perfil de resistência a medicamentos. A Organização Mundial de Saúde alerta para os perigos da doença.

Há cerca de 80 diferentes espécies de micobactérias “germe em forma de bacilo”, como demonstrado por Robert Koch em 1882, batizando-se como bacilo de Koch em homenagem ao cientista, Prémio Nobel de Medicina em 1905. As características diferenciais nos grupos de micobactérias são determinadas pelo metabolismo, classificando-se em altamente patogênica, patogênica e não patogênica.

Distribuído amplamente pelo ambiente, no solo, na água e parasitando alguns animais intracelularmente, albergam e provocam doenças nos seres humanos. Em continentes pobres, a questão da fome emerge, fazendo muitas vítimas também. Ao consumir água não tratada, carne de animais não vacinados e sem avaliação dos órgãos de saúde responsáveis por análises dos alimentos, podem adquirir o bacilo e vir desenvolver a doença.

O confinamento dos animais é um fator de fácil instalação da doença. Ferver o leite e cozinhar os derivados da carne antes do consumo é uma das formas de não adquirir a tuberculose, uma doença milenar conhecida como tísica consuptiva e peste branca.


Tuberculose bovina

O M.bovis “bacilo bovino” é altamente patogênico no homem e está classificado dentro do Complexo M.tuberculosis “bacilo humano”, que está resistindo a mais de três antibióticos.

No escarro de pessoas doentes são encontrados “os bacilos” e a transmissão ocorre ao falar, ao tossir, pelas microgotículas que são arremessadas, e podem instalar-se em lugares úmidos e ao abrigo do sol. A boa higienização do ambiente é a melhor maneira de prevenir a transmissão da tuberculose, doença do trato respiratório que ocorre nos seres humanos, podendo se disseminar através do sangue para outros órgãos.


Fagocitose

O bacilo de Koch é fagocitado pelos macrófagos, células de defesa do sistema imunológico que foram sinalizadas da presença de substância química proveniente de organismo invasor e empreenderão combate para conter a disseminação infecciosa, incorporando os bacilos intracelularmente e permanecendo em estado de dormência, podendo tornar-se infecciosos em um momento da vida do indivíduo quando o sistema circulatório entrar em falência.

Os médicos infectologistas são as pessoas capacitadas para tratar os doentes de tuberculose, analisando os sintomas clínicos demonstrados como tosse persistente, inapetência, febre constante e sudorese noturna e os sinais obtidos pelo laboratório de referência em investigação epidemiológica, diagnosticando a origem da infecção. O cadastramento do paciente é muito importante, pois irá direcionar a Campanha de Busca Ativa de casos de tuberculose pelo Centro de Vigilância Epidemiológica - CVE, que tem como objetivo alertar a população para os sintomas da doença, alertar os profissionais de saúde para “pensar” em tuberculose e aumentar a descoberta de casos.

O Instituto Adolfo Lutz, laboratório de referência da Agência de Controle e Promoção de Saúde da Secretaria do Estado da Saúde, irá processar as amostras de acordo como preconiza o Programa de Controle da Tuberculose.


Fator corda

A partir do cultivo bacteriano e dos testes clínicos enzimáticos e metabólicos “in vitro”, confirma-se à origem da infecção. Dentre alguns testes presuntivos para triar o grupo patogênico, destacam-se as observações fenotípicas: a morfologia das colônias em meio de cultura e na lâmina de microscópio corado pelo método Zieh-Nielsen, a demonstração do “fator corda” – bacilos compactados seguidos formando uma corda de navio (1). Os testes clássicos, que irão acompanhar a identificação até o final, são eles: produção de niacina, redução de nitrato, suscetibilidade ao ácido p-nitrobenzóico PNB, resistência à hidrazida do ácido 2-tiofenocarboxilico TCH e sucessibilidade das drogas antituberculose.

Para as MNT – Micobactérias Não Tuberculose, oportunistas encontradas no mesmo foco infeccioso em 412 amostras processadas, 362 (88,7%) do Complexo M. avium-intracelulare, M. kansasii, M. fortuitum, M. gordone, M. chelonae, 50 (12,1%) M. celatum, M. szulgai, M. nonchromogenicum, M. triviali, Mycobacterim sp, provocando infecções respiratórias e até mesmo infecções cutâneas, traçou-se o comportamento dos melhores dentre os 24 testes descritos em literatura para a identificação, a sensibilidade a drogas, tendo o custo efetivo resultados satisfatórios nas pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, propondo novos métodos de detecção e esquemas de tratamentos diferenciado (1).

A capacidade da M. tuberculosis de desenvolver mutações e tornar-se mais resistentes às drogas foi constatada em projeto de pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas/UNESP de Araraquara, em ação conjunta com o Hospital Sanatório Nestor Goulart Reis, demonstrando resistência a até três drogas e traçando o perfil de resistência da M.tuberculosis de um grupo de pacientes proveniente dos Estados do Brasil internados em regime de isolamento.

O método utilizado foi das proporções, por demonstrar a concentração de droga capaz de inibir o desenvolvimento de germes sensíveis e não dos resistentes. A seguinte porcentagem de resistência foi encontrada em 51 pacientes: a três ou mais drogas 21,56%, a duas drogas 11,76% e a uma droga 41,17%, sendo de 25,49% sensíveis a todas as drogas (2).

A mutagênese bacilar produz uma proteína conhecida como DnaE2, fruto da reprodução defeituosa do DNA da micobactérias, apontada como a vilã deste problema (3), fazendo parte no foco bacilar e provocando a resistência micobacteriana no hospedeiro, isto é, infecção primo resistente.

A resistência medicamentosa surge no momento em que o paciente abandona o tratamento por maus hábitos ou acha que já se curou. A melhor maneira em controlar os abandonos de tratamentos foi operar o sistema DOTS - Directly Observed Treatment Short -, que consiste em acompanhar todo o tratamento até o termino por intermédio do programa da família. O Sistema Único de Saúde, utilizando os seus tributos, ampara com indenizações e assistências, indivíduos acamados pelas doenças infecciosas.


Tuberculose cutânea

No Brasil, o governo paulista, através da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, tem investido em projetos como o do professor pós-doutorando em Imunologia e Biologia Molecular Célio Lopes Silva, da Universidade de São Paulo - USP, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, autor da primeira vacina gênica brasileira para tuberculose e fundador do Laboratório de Vacinas Gênicas do Brasil: “Graças a esses recursos, todos os trabalhos com o bacilo da tuberculose são realizados em cabines de seguranças biológicas classe III. Elas permitem manipulação de culturas de células infectadas e de material clínico contaminado, cultura de microrganismos, operações de animais, cultivo de tecidos ou fluidos infectados de animais e necropsia.” (4)

Vantagens da vacina gênica:

- prevenir contra o estabelecimento da infecção e da doença;
- eliminar a infecção causada pelo bacilo da tuberculose;
- curar casos crônicos e doença disseminada;
- resolver casos de tuberculose causada por bactérias altamente resistentes aos medicamentos usados no combate à doença;
- impedir a reativação da doença quando os animais são submetidos a uma imunodepressão pelo tratamento com drogas imunossupressoras;
- permitir que o período de tratamento efetivo contra a tuberculose seja encurtado de oito para dois meses pela administração concomitante de medicamentos e aplicação da vacina.

O Brasil contém vasto conhecimento no combate às doenças responsáveis pelas pandemias que mais matam no mundo, graças à dedicação e amor dos seus cientistas pesquisadores, agentes de saúde e atendentes pela promoção da vida.

Notas

1) Métodos para diagnosticar M.tuberculosis e Micobactérias Não Turberculose - Instituto Adolfo Lutz.

2) Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara/UNESP, Isolamento, Identificação e Perfil de resistência a drogas, das cepas de Micobacterium tuberculosis provenientes de pacientes internados no Hospital Sanatório Nestour Goulart Reis - Américo Brasiliense. 1998.

3) Universidade de Witwatersand em Johannesburgo - Africa do Sul e Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

4) Notícias-FAPESP, n°43.

Referência bibliográfica

CALMETTE, A. L'infection bacillaire et la tuberculose chez l'homme et chez les animaux. Paris, Masson et Cie, Editeurs Libraires de l'Académie de Mêdicine, 1936, VI.

* Paulo Henrique Monteiro é biólogo-micobacteriologista, técnico de laboratório do Instituto Adolfo Lutz

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